2014

Junho


Os prezados Leitores, Colegas e Amigos, que eventualmente prescindam de um pouco do escasso tempo, de que ainda vão dispondo, para passarem os olhos por estas linhas desconchavadas, certamente que se questionarão se não seria mais útil que dedicássemos esta prosa a questões somente de índole profissional ao invés de fazermos deste editorial como que um muro das lamentações.

Porém, e embora correndo o risco de sermos alvo do desabafo atrás mencionado, não conseguimos deixar de pensar nas ilações que, sem prejuízo da opinião de cada um, retiramos não só do acto eleitoral que teve lugar no Domingo, dia 25 de Maio do corrente ano, como da actuação dos mais altos responsáveis pela Administração Tributária face às constantes falhas do seu sistema informático.

Relativamente ao acto eleitoral, o primeiro pensamento que nos ocorre é que regredimos quatro décadas. É que o nível da abstenção, somente um terço da população exerceu o seu direito de voto, leva-nos a recordar que um tal estado de conformismo e de desânimo só se verificou nos denominados “tempos da outra senhora”.

Mas, nesses tempos, pressentia-se uma revolta interior e um desejo irreprimível de “dar a volta à situação”. Hoje, o que sentimos, é que existe um estado de espírito que se pode consubstanciar no desabafo “por favor, não nos matem à fome...”

Repare-se que não é de ânimo leve que emitimos tal opinião. Como os Colegas certamente verificaram, quando procederam ao preenchimento das declarações modelo 3, de familiares, amigos ou clientes, o brutal aumento da carga fiscal (Victor Gaspar dixit...), deixou as pessoas, perdoe-se-nos a expressão, completamente “depenadas”, ficando a esmagadora maioria no limiar da mais extrema pobreza.

Face a este descalabro, como é possível clamar que o País está, hoje em dia, melhor?...

Quanto aos problemas com que nos temos confrontado, no Portal das Finanças, e que têm originado a todos nós profundas dores de cabeça e angústia para podermos cumprir, atempadamente, as obrigações fiscais das entidades a quem prestamos serviços, o feed back que recebemos dos seus responsáveis é que não se passa nada, que não passam de meros percalços que não põem em causa a normalidade do acesso dos contribuintes aos diversos serviços de recolha das obrigações declarativas.

Os responsáveis pelos Serviços não se aperceberão de como estas afirmações são caricatas e motivadoras de maior revolta?

Uma nota final. Nas últimas semanas, a expressão mais constante no Portal das Finanças, tem sido, como todos sabemos, “O Portal das Finanças encontra-se indisponível para tarefas de manutenção. Pedimos desculpa pelo incómodo causado. Seremos o mais breve possível.”

O que pensaria o senhor ministro das finanças se os contribuintes fizessem chegar ao Portal das Finanças a seguinte expressão “Este contribuinte encontra-se indisponível para pagamento de impostos. Pedimos desculpa pelo incómodo causado. Pagaremos o mais breve possível”?

Embora muito mais houvesse para dizer, terminamos referindo que relativamente às questões acima abordadas, quando se estica demasiado a corda, normalmente ela parte...

João Colaço