Outubro
O tempo que estamos a viver está tão prenhe de incógnitas que não permite termos uma ideia minimamente consciente de como decorrerá o futuro próximo, o que, obviamente, não nos dá a mínima tranquilidade e não deixa de nos perturbar.
Começamos por recordar aos Prezados Colegas o sentimento de revolta que foi sentido pelas pessoas, nas diversas povoações envoltas em labaredas, devido ao encadear de situações que fugiram a todo e qualquer controlo das autoridades e que redundaram em mais de uma centena de mortes.
Atentemos, ainda, que não podemos dissociar os terríveis fogos, que ocorreram praticamente por todo o país, desta seca extraordinária que nos tem assolado e que está a pôr em risco não só o abastecimento de água potável das pessoas como dos animais.
Também a agricultura, englobando nesta a fruticultura, a fauna, a flora, a pastorícia, a suinicultura, a avicultura, a apicultura, a criação de gado, e restantes actividades, estão em risco, o que certamente contribuirá para a diminuição de exportações e um aumento de importações com evidente impacto no défice comercial.
Outra questão que tem tendência para aumentar este clima de perturbação foi o resultado das recentes eleições autárquicas, que deixou os partidos, situados mais à esquerda do espetro político, algo nervosos, sentindo-se da parte destes um ainda maior pendor reivindicativo o que pode causar desentendimentos no acordo de governação conhecido como “geringonça”.
Não podemos, também, esquecer o sobressalto moral que a denominada sociedade civil sentiu, com a leitura do acórdão, em que um juiz legitima a violência doméstica (agressão com uma moca com pregos) exercida sobre uma mulher, por esta ter sido infiel, baseando a sentença com recurso à bíblia, afirmando que nela podemos ler que a mulher adúltera deve ser castigada com a morte, leva-nos a questionar que espécie de justiça é esta.
E, como se os casos acima referidos não bastassem, de Espanha não vêm bons ventos, mas sim uma outra fonte de perturbações, com a tentativa da Catalunha se tornar independente, com o inevitável clima de instabilidade a propagar-se a todos os níveis num país que é, só, um dos nossos maiores parceiros comerciais.
São, pois, estes tempos conturbados que nos deixam perturbados…
João Colaço