Novembro
Em Novembro de 1967 uma imensa tragédia, provocada por um autêntico dilúvio que se abateu sobre Lisboa, deixou um rastro de mais de 700 mortos.
Neste ano de 2017 ocorreram também duas outras tragédias, os fogos que varreram Pedrógão Grande, no mês de Junho, e Oliveira do Hospital, no mês de Outubro, que deixaram atrás de si um rastro de mais de cem mortos.
Recordamos estes acontecimentos com um misto de horror e espanto. Sim, espanto, pois é para nós inconcebível que tivessem ocorrido do modo como ocorreram, não sendo aceitável que se diga que nada se pode opor às forças da natureza quando esta se manifesta com maior violência.
Decorreram cinquenta anos e foi como se tivessem passado somente algumas horas, pois nada se aprendeu com os erros anteriores, não se pondo em prática medidas preventivas, apesar de existirem, relativamente a todas as áreas e atividades, relatórios, estudos e conclusões que tarde demais ou nunca são tidos em consideração.
Se relativamente a 1967 ainda se compreende que era extremamente difícil, para não dizer impossível, que o povo manifestasse a sua indignação pelas funestas condições em que se vivia, e em que os governantes de então fechavam os olhos à má utilização dos solos, aceitando mesmo que se edificasse em locais impróprios, inclusivamente sobre linhas de água, dado que uma ditadura implacável não permitia que a mínima crítica fosse publicada, já o mesmo não sucede hoje em dia, que tal ditadura já não existe.
Quando referimos que não aprendemos com os erros passados, queremos especificamente apontar o dedo à questão dos fogos, com os sucessivos governos a ignorar olimpicamente os mais elementares deveres para com as populações, desprotegendo-as, em primeiro lugar, ao eliminarem os guardas florestais, em segundo lugar ao não exigirem a limpeza das matas.
Mas quando confrontados com esta falta de limpeza e questionados porque não são aplicadas multas a esta infracção por omissão, respondem que há que atender ao facto de que a esmagadora maioria das pessoas que vive no campo é já idosa e que não tem meios...
Repare-se na indigência do raciocínio destes governantes que padecem, todos eles, de uma doença apelidada de memória curta. É que se esquecem de que foram eles próprios que com a desculpa de efetuar reformas estruturais encerraram escolas, centros de saúde, linhas ferroviárias, agências bancárias, etc., pois assim poupavam-se milhões de euros.
Obviamente que tudo isto levou à desertificação do interior, só lá permanecendo os mais idosos, passando a verificar-se a falta de limpeza da floresta o que em muito aumentou o risco e as consequências dos incêndios, desbaratando-se assim mais milhões de euros do que aqueles que alegadamente foram poupados com as denominadas “reformas estruturais” que implantaram.
Não podemos, pois, deixar de concluir que ao invés de termos governos que nos governem, temos tido, sim, governos que nos têm desgovernado…
João Colaço