Julho
O “Brexit”, que consequências?
Quando se falava de Inglaterra vinha-nos à memória o Big Ben, mas, desde o passado domingo, dia 19 de Junho, o termo que inevitavelmente lhe associamos é o “Big end”, ou seja, metaforicamente falando, o grande “final” de uma União Europeia que, embora sofrendo muitos e diversos sobressaltos, nos dava uma sensação de crescimento que acabaria na concretização do sonho de Charles de Gaulle, uma Europa unida do Atlântico aos Urais.
Porém, o fantasma da desintegração da União Europeia paira sobre nós, após o referendo levado a efeito em Inglaterra, em que o denominado “brexit” levou a melhor ao “remain”, ou seja, foram mais os cidadãos (cerca de 2,5%) que manifestaram a intenção da saída do que a manutenção da Inglaterra na U. E.
Compreendemos o desagrado com que a população mais jovem, entre os 18 e os 34 anos, claramente a favor da permanência do país na União Europeia, recebeu o resultado deste referendo, dado que se sentiram traídos e abandonados pelas gerações mais velhas, fruto não só do populismo utilizado pelos políticos, denominados eurocéticos, e da informação deturpada com que estes assustaram e manipularam os mais idosos, fazendo-lhes crer que estavam a ser explorados pelos restantes países da Comunidade Europeia.
Para além deste tipo de informação outra, talvez ainda mais grave, foi sendo transmitida – que a manutenção do país na União Europeia ia originar uma invasão maciça de emigrantes e refugiados, tendo como consequência um brutal aumento do desemprego e o aumento da criminalidade e da insegurança – omitindo, obviamente, os “ganhos” e o desenvolvimento que os emigrantes já proporcionaram à Inglaterra.
Os restantes países, assim como as gerações mais novas de Inglaterra, conscientes destes dados, sentem-se impotentes e temem que este “brexit” tenha como efeito, em primeiro lugar, o desmembramento do Reino Unido, com a Escócia a optar pela União Europeia e a criação de uma fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, e, em segundo lugar, a possível escalada referendária como já começa a ser exigido em França, Itália e Holanda.
Face a esta convulsão, seria previsível que as instâncias políticas (Comissão e Parlamento Europeus) tivessem um rebate e levassem a efeito uma autocrítica acerca das razões que originaram a presente situação. Infelizmente, como todos nos apercebemos, preferiram assumir uma postura de nada lhes ser imputável e deram a entender que os causadores desta “tempestade” são os crónicos países do Sul (Portugal e Espanha), pelo que estes deverão ser sancionados com multas e impedidos de aceder aos fundos comunitários dado não terem cumprido com o défice orçamental de 3% em 2015.
Assim, não sabemos o que mais lamentar, se o vislumbre de um manto de xenofobia, que se estende pelos países do centro e do norte da Europa, se a demonstração da perca do sentimento de solidariedade que a pouco e pouco se vem manifestando ou o previsível, ainda que demore algum tempo, fim da atual União Europeia, tal como hoje a conhecemos.
Resta-nos aguardar, desejando que não se concretizem os nossos receios e que ainda seja possível o renascimento do espírito europeu, baseado na liberdade, na paz, na solidariedade e na fraternidade, como o sonharam os fundadores da Comunidade Europeia, nomeadamente Konrad Adenauer, Robert Schuman, Paul-Henri Spaak, Jean Monet, e, mais tarde, Jacques Delors.
João Colaço