2020

Março


No quinta-feira passada, dia 5 de março, no decorrer de uma conferência para assinalar os 30 anos do jornal Público, Marcelo Rebelo de Sousa afastou o cenário de eleições antecipadas e pediu aos agentes políticos para "baixarem a temperatura" e agirem no quadro parlamentar que os portugueses escolheram, considerando que o início de legislatura não pode ter sabor de fim.

Porém, o que se verifica, é que, pelo menos aparentemente, há imensa gente que parece apostar em que se agrave esta “temperatura”, até com alguns partidos a fomentarem um clima de terra queimada, através de algumas “maiorias negativas”, isto é, com a conjugação de vontades contrárias aos próprios espetros políticos somente com o intuito de demonstrar que o Governo do Partido Socialista não pode contar com o respaldo dos outros partidos.

Bem pode o Governo puxar pelos galões, no que se refere aos bons resultados orçamentais obtidos nos últimos anos, resultados esses que são e serão sempre postos em causa por todos os partidos da oposição, sem que se observe, porém, consenso quanto à opções que deveriam ter sido seguidas ao invés do que foi posto em prática pelo ministério das finanças.

Face ao que acabamos de referir, compreende-se perfeitamente o desabafo do Presidente da República, dado que logo no início desta legislatura os partidos estão a proceder e a posicionarem-se como se já estivéssemos perto do seu fim.

Podemos entender que os partidos mais à esquerda do Partido Socialista elevem agora a voz, afirmando que o défice não é importante e que o Governo deveria ter procedido a substanciais melhorias salariais e à revisão de todas as matérias laborais, reivindicações estas que terão por principal causa a votação obtida no último pleito eleitoral que lhes foi bastante desfavorável.

No que se refere aos partidos mais à direita do Partido Socialista, os resultados são e serão sempre medíocres, afirmando estes que o Governo desperdiçou uma ocasião única para introduzir profundas reformas a nível laboral, económico e fiscal. Talvez por estes partidos também não terem alcançado os resultados eleitorais que previam e desejavam, tenham sentido a necessidade de, desde já, os fazer esquecer, e daí as acusações de incapacidade e de visão do Governo.

É, pois, devido a este clima político, que olhamos para a atual legislatura como uma incógnita. Ela deixaria de ser uma incógnita se, como todos desejaríamos,  os partidos que compõem a Assembleia da República, embora mantendo os próprios programas políticos, concordassem em alcançar um mínimo consenso e, com o alto patrocínio do Presidente da República, unissem os seus esforços com os do Governo de modo a que, uma vez por todas, o nosso País conseguisse alcandorar-se ao nível dos países mais desenvolvidos do mundo.

João Colaço