2004

Agosto


SERÁ QUE NADA VAI MUDAR?
Ao escrevermos estas linhas, no início de Agosto, confessamos...


Ao escrevermos estas linhas, no início de Agosto, confessamos, com bastante tristeza, que somos compelidos a pensar que nada mudou, nos últimos anos, no que se refere à mentalidade e à atitude dos responsáveis públicos pela condução do nosso País.

Veja-se, no caso dos fogos, que em Agosto de 2003 assistimos, e sofremos, a uma tragédia inominável, tendo, então, os responsáveis (?!?!) afirmado que tal tragédia não se repetiria pois iriam ser disponibilizados mais meios, humanos e equipamentos, às entidades vocacionadas para o combate a estas calamidades. Infelizmente todos sabemos que no final do mês passado, Julho, já tinham ocorrido incêndios que ultrapassaram a dimensão da tragédia do ano anterior, sem que nada do que fora prometido tenha sido minimamente cumprido!

Deixemos, por agora, o passado recente e olhemos para o futuro próximo.

Os Jogos Olímpicos de Atenas estão prestes a ter o seu início, e, tal como em anteriores Jogos Olímpicos, já é publicamente assumido que os nossos atletas irão conquistar as mais variadas medalhas, não servindo, também neste caso, de lição, os desaires sucessivos que, com raras e honrosas excepções, temos vindo a sentir. Para além da despudorada pressão psicológica que é exercida sobre os atletas, o que somente os fragiliza em lugar de lhes dar o apoio a que, indubitavelmente, têm todo o direito, os leitores já meditaram na desigualdade dos meios que suportam os nossos atletas face aos meios que a esmagadora maioria dos restantes países disponibilizam aos seus? Basta pensarmos na falta de infraestruturas, as quais começam por inexistir logo nas escolas do ensino básico, assim como na falta de investimento, a todos os níveis, no desenvolvimento cultural e desportivo das nossas crianças, adolescentes e adultos, com excepção do que se refere ao futebol, o que nos dá a sensação que esta modalidade é a modalidade oficial do Estado!

Este desinteresse é, além do mais, contrário aos preceitos constitucionais, veja-se o artigo 79.º - Cultura física e desporto, da Constituição da República Portuguesa. Aliás, também no que se refere à tributação, quer das pessoas singulares quer das colectivas, os números 1 e 2 do artigo 104.º - Impostos, preconizam, respectivamente, o seguinte: “O imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das desigualdades e será único e progressivo, tendo em conta as necessidades e os rendimentos do agregado familiar” e “A tributação das empresas incide fundamentalmente sobre o seu rendimento real”, o que nos leva a questionar, também nestas matérias, o que vale termos uma das Constituições mais avançadas do Mundo se a mesma não é mais do que um repositório de boas intenções?

Esta é, fundamentalmente, a razão de ser do título deste editorial. Será que nada vai mudar?

João Colaço