Agosto
SERÁ QUE VALE A PENA?
É uso dizer-se, se a memória me não falha, que as boas parteiras tomam como suas...
É uso dizer-se, se a memória me não falha, que as boas parteiras tomam como suas as dores das parturientes, o que reflecte, como todos bem sabemos, a sábia experiência do povo que, tendo por detrás de si a longa tradição e cultura que os nossos antepassados lhe legaram, no seu saber da experiência feito, nos vem transmitindo, através destes ditados, adágios ou aforismos, conceitos e ensinamentos que têm tanto de sageza como de fundo moral.
Também nós, todos aqueles que lidamos com as questões contabilísticas e de índole fiscal das entidades a quem prestamos os nossos serviços, tomamos como nossas as dores e as preocupações das pessoas que vivem os problemas das empresas e que tantas e tantas vezes se sentem desesperadas por não terem perspectivas credíveis e seguras de que a legislação e o enquadramento legal da actividade que exercem não se vai modificar de um dia para o outro!...
E nós, quais bombeiros, lá vamos a correr deitar água na fervura, incutindo nos empresários ânimo e esperança de que o pior já passou e que após a tempestade vem sempre a bonança, pelo que há que dar a volta por cima e seguir em frente com as empresas, pois o esforço e o contributo de todos nós é imprescindível para que o nosso País saia do pessimismo destrutivo que nos tolhe desde há longos anos.
Mas, e pegamos agora nas palavras que titulam este editorial, será que vale a pena, prezados Leitores, esgotarmo-nos nestes trabalhos hercúleos de exercermos, simultaneamente, o nosso mister de Técnicos Oficiais de Contas, em que pomos diariamente em prática os conhecimentos que nos permitem assumir a responsabilidade técnica pela contabilidade e pela fiscalidade dos empresários, o papel de os encorajar, pelo que temos de ser psicólogos e confidentes, para além da missão pedagógica, que incumbiria em primeira mão ao Governo, de lhes explicitar as constantes alterações que sofre a legislação económica e fiscal.
Como vemos, ou antes, como sentimos, e podemos dizer que sentimos bem na pele, entre todas as profissões que conhecemos não conhecemos outra que seja tão exigente e a quem o Estado tanto deva como a nossa. E quando nos questionamos se valerá pena tanto sacrifício é porque o Estado para além de não reconhecer todo o esforço e empenhamento que pomos no exercício da profissão, ainda tenta, com todo o despudor, que sejamos, para além de responsáveis, que somos, e com orgulho, pela regularidade técnica nas áreas contabilística e fiscal das entidades a quem prestamos serviços, delatores dessas mesmas entidades assim como subsidiariamente responsáveis e solidariamente entre si com os administradores, gerentes e outras pessoas que exerçam, ainda que somente de facto, funções de administração.
Sendo assim, será que os artigos 71.º a 84.º do Código das Sociedades Comerciais são letra morta para a administração fiscal? Será que os Técnicos Oficiais de Contas passam a ser uma Polícia de Vigilância da administração fiscal?
É por tudo isto que nos questionamos, será que vale a pena? Bom, prezados Leitores, pensamos que a resposta não pode ser outra que não a do poeta: Vale sempre a pena quando a alma não é pequena!
Perdoem-nos por, em tempo de férias, virmos incomodar o vosso descanso com estas questões, mas pensamos que, mesmo nos momentos de lazer, “vale a pena” recordar que há quem comungue das vossas preocupações.
João Colaço