2015

Novembro


E de novo estão os meninos à volta da fogueira...

Recordamos que, há precisamente cinco anos, escrevemos o editorial relativo a Novembro de 2010 subordinado ao título “Os meninos à volta da fogueira”, em que então referimos estarmos ainda sob o efeito da notícia que o Governo e o maior partido da oposição, o PSD, por iniciativa deste último, romperam as negociações com vista à aprovação da proposta de lei do Orçamento de Estado para 2011. A consequência imediata de tal rompimento foi a queda a pique da bolsa nacional e o maior aumento da taxa de juros, dos empréstimos externos, dos últimos tempos.


Estamos crentes que, apesar de terem decorrido, entretanto, cinco anos, mantém plena validade, entre outras, esta afirmação relativa à situação que estávamos a viver: “Olhando para a televisão, lendo os jornais ou ouvindo a rádio, a sensação que nos fica das diatribes que são lançadas pelas figuras mais destacadas dos maiores partidos da política portuguesa é que estes são, parafraseando os versos de Martinho da Vila, como meninos à volta da fogueira.

Hoje em dia, como então, os Prezados Leitores, Colegas e Amigos, sabem, pelo menos aqueles que ainda se recordam da sua infância, os meninos amuam, fazem birra e dizem uns para os outros – tu é que és mentiroso (ou outra coisa qualquer)... – e vão a correr para os braços dos familiares, neste caso para as comissões políticas dos respectivos partidos.

E o País? O País, ou seja todos nós, assistimos de olhos esbugalhados e num estado de pura incredulidade a esta, como lhe chamar, comédia, drama, paródia, novela, ou telenovela, já que os participantes adoram ser entrevistados, noticiados e comentados pelas televisões, não tendo o menor pejo em negar toda e qualquer responsabilidade no tremendo imbróglio em que se transformou a situação económica e financeira que atravessamos.

Não podemos deixar de salientar que, no nosso modesto entendimento, obviamente sem prejuízo de melhor opinião, apesar do enorme decréscimo das taxas de juro relativos aos empréstimos externos, estamos hoje em pior situação do que em 2011, dado que para além de se ter verificado um significativo aumento da dívida pública se verificou também um êxodo de cerca de quinhentas mil pessoas (meio milhão !!!) na força da idade e detentores das melhores capacidades graças ao investimento na educação suportado por todos nós.

Repare-se que, de acordo com o Observatório da Emigração, desde 2010, com a natureza assimétrica da chamada crise das dívidas soberanas e os efeitos recessivos das políticas de austeridade, a emigração passou a crescer mais do que no período anterior, estabilizando entre 2013 e 2014 na casa das 110 mil saídas ano, valores só antes observados nos anos 1960/70.

Também de acordo com este Observatório, só em 2014, o valor das remessas de emigrantes recebidas em Portugal foi ligeiramente superior a três mil milhões de euros (€3,057,277,000), representando cerca de 1.8% do PIB daquele ano.

Face aos números atrás citados compreendemos a razão de ser da celebérrima expressão de Passos Coelho (e que ele agora afirma não a ter proferido…) – Não sejam piegas, deixem a vossa zona de conforto e emigrem – pois de uma cajadada matavam-se dois coelhos (…), diminuía-se o desemprego e verificava-se uma ajuda ao equilíbrio económico-financeiro do país, através do contributo destas remessas para o saldo da balança corrente.

E assim, Prezados Colegas, tal como em Novembro de 2010 terminamos referindo que sempre ouvimos dizer que os meninos serão os homens de amanhã. Então resta-nos desejar que estes “meninos” cresçam, talvez ainda venham, de facto, a ser homens...

João Colaço