Novembro
Pegando numa expressão bem antiga, “para mal dos nossos pecados”, que no nosso entender tem o significado “para infelicidade nossa”, a atividade profissional que exercemos, contabilistas, é, por demais, esgotante e quase nos apetece dizer, aviltante, pois o nosso trabalho não é minimamente reconhecido, quer pelos destinatários originários, os nossos clientes, quer pelos destinatários subsidiários.
Como bem sabemos, e não é por ironia do destino, os destinatários subsidiários, de que destacamos, principalmente, a Autoridade Tributária, acabam por ser os maiores beneficiários da nossa atividade.
E, no entanto, sendo a AT que mais beneficia do nosso labor, pois é com base nele que os nossos clientes são tributados, os resultados por nós apresentados são por ela olhados com desconfiança, veja-se o que o SEAF pensa do exercício da nossa atividade, e que referiu no documento que enviou à Presidente da Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, da Assembleia da República, no passado dia 12 de Julho:
“De facto, hoje é possível preencher uma IES sem ter um único registo contabilístico efetuado num programa de contabilidade. Muitas vezes, os registos são efetuados nos programas, mas o encerramento das contas é efetuado através de ficheiros excel, sendo a abertura dos períodos posteriores, efetuada com base em registos manuais, que têm potenciado discrepâncias entre os saldos finais de um ano e os saldos iniciais do ano seguinte”.
Longe vão os tempos em que existia um relacionamento mais estreito e colaborante entre a então Direção Geral das Contribuições e Impostos e as associações, onde na altura os Técnicos de Contas se inscreviam por seu livre arbítrio, e que nas ações de formação levadas a efeito em conjunto por essas mesmas entidades, era afirmado, porque era por todos reconhecido, que a Direção Geral das Contribuições e Impostos, os Técnicos de Contas e os Empresários, constituíam um triângulo equilátero, pois existia institucionalmente, o entendimento em que estes três lados eram iguais, sem prevalência de qualquer um.
Por seu lado, os clientes, que deviam ser os que mais atenção e proveito deveriam extrair das contas que por nós lhes são apresentadas, podendo desse modo aquilatar da “saúde” das suas empresas, são, paradoxalmente, quem revela menos interesse nessas contas, dado que a sua preocupação maior (para não dizer, única), é saber o imposto que têm de pagar, pelo que o montante desse imposto é o aferidor da nossa competência.
Se o imposto for elevado, não somos bons profissionais, se for zero, então já somos bestiais…
Confessamos que, não sendo passadistas, temos, porém, saudades dos tempos em que eramos tidos em alta consideração.