Novembro
Os chineses da Europa
Quando somos confrontados com um documento que nos remete para um futuro, já não sombrio, mas sim de um negrume assustador...
Neste país, em que parece bastar escrever-se um livro para se ser ministro, e que no caso de serem manifestadas teorias ultra liberais, essa hipótese é muito mais elevada, existe um povo que deve estar a rejubilar devido às medidas constantes da proposta de lei para o orçamento do Estado para 2011.
Como por todos é sabido, atendendo à maioria que desfruta no parlamento, esta proposta do Governo vai ser aprovada, pelo que é, desde já, possível termos uma percepção do que o próximo futuro nos reserva.
O aumento do número de horas de trabalho e a diminuição dos custos da mão de obra, graças à evaporação dos subsídios de férias e de Natal, com a concomitante diminuição dos respectivos encargos com a TSU, e talvez não erremos por muito se pensarmos que mais cortes irão surgir nos ordenados e salários dos trabalhadores até ao fim da presente legislatura, tem o intuito (cremos que é assim que é referido pelo Álvaro, como o nosso ministro da economia – sim, economia com letra pequena!!! – gosta de ser tratado, diz ele...) de sermos competitivos e atrairmos deste modo colossais investimentos provenientes do estrangeiro.
Além destas medidas, outras não tão badaladas também são tomadas como, por exemplo, o progressivo desaparecimento das deduções, em sede de IRS, o que diminui, e de que modo, os rendimentos líquidos das pessoas, pelo que ficarão em situações cada vez mais frágeis.
Todo este enquadramento gera uma cada vez maior instabilidade, pelo que as pessoas tenderão a abdicar dos direitos constitucionais que lhes estão cometidos, para conseguirem “conquistar” um qualquer posto de trabalho que ao menos lhes possibilite a sobrevivência.
Se os mentores desta política alcançarem este desiderato poderão inchar o peito de auto satisfação, pois estará aberto o caminho para sermos os chineses da Europa e arrasarmos, assim toda e qualquer concorrência venha ela de onde vier.
Eles visionam, já, as grandes empresas chinesas a deslocalizarem as suas fábricas e escritórios para Portugal, que se tornará no país que mais venera o capital em detrimento de outras “filosofias” ultrapassadas, como, por exemplo, direitos e liberdades fundamentais, entre os quais a segurança social, a solidariedade e a saúde, que embora possam ainda continuar a constar do texto da Constituição da República, o seu exercício depaupera o erário público, deixando este sem meios para acorrer em socorro das instituições bancárias...
Assim, graças à tenacidade deste Governo, em especial dos seus ministros da economia e das finanças, que sagazmente souberam descortinar o caminho para colocar a nossa economia ao serviço de outras economias bem mais fortes, merecendo por esse facto os rasgados encómios, por exemplo, da chanceler alemã, ainda que alguns dos seus pares em Portugal, começando pelo Presidente da República, torçam o nariz face a estas opções, poderemos ter a esperança que, após o desaparecimento da maior parte dos empresários deste país e de a economia bater no fundo, vamos começar a recuperar...
Rejubilemo-nos, pois, com o rumo escolhido, e esperemos que depois da morte surja a ressurreição...
João Colaço