2011

Janeiro


Remar contra a maré
Será possível a criação de algum imposto sobre os mortos, já que os vivos estão prestes a nada terem?


Ao iniciarmos um novo ano temos sempre dentro de nós a expectativa de conseguirmos vir a fazer mais e melhor do que aquilo que realizámos no ano transacto, na tentativa de obtermos melhores resultados.

Pensamos, todavia, que este desígnio vai sendo cada vez mais difícil de concretizar, atendendo à carga negativa que nos últimos anos tem vindo a acumular-se sobre os nossos ombros. É certo que a nossa vontade não desfalece pelo que vamos insistindo continuadamente na prossecução dos nossos afazeres, correndo embora o risco de nos exaurirmos nesse esforço. 

São, porém, os empresários a quem prestamos os nossos serviços, que mais preocupados nos deixam, pois estes sentem-se desmoralizados e como que perdidos no meio de uma tempestade. Quantos e quantos se limitam a tentar sobreviver na esperança de que ainda venham a conseguir solver os seus compromissos e a estancar os seus prejuízos.

Ora o apertar do cinto que se sente na generalidade da nossa população não permite que se gerem expectativas de que a curto ou médio prazo exista um aumento do consumo que proporcione uma maior procura de bens e ou serviços, estando esta estagnação a originar mais encerramentos de empresas com o consequente crescimento do desemprego e correspondente falta de recursos para a aquisição dos bens mais essenciais.

Perdoem-nos os Prezados Leitores, Colegas e Amigos, mas não podemos deixar de exteriorizar que a imagem que consideramos mais apropriada para representar a actual situação é a de uma pescadinha de rabo na boca.

É necessário diminuir o défice. Já todos nós o percebemos. O que não percebemos é como este desiderato irá ser alcançado com as medidas que estão a ser tomadas. Cortam-se os apoios sociais e os vencimentos, aumenta a tributação dos rendimentos, quer do trabalho como das pensões, e os impostos. Assim, os rendimentos líquidos da esmagadora maioria das pessoas são cada vez mais reduzidos, o que as impede de adquirir quaisquer bens para além dos que necessitam para a sua sobrevivência, e que em quantas e quantas situações, nem mesmo para isso chegam, pelo que têm que se socorrer da solidariedade alheia.

O comércio estagna, e, deixando de existir a procura, a indústria fenece, e o próprio sector dos serviços apresenta quedas acentuadas na sua facturação, pelo que deixa de haver lucros para serem tributados. Como passa a haver menos receita fiscal, há que aumentar os impostos, e assim sucessivamente, o que nos leva a questionar se será possível a criação de algum imposto sobre os mortos, já que os vivos estão prestes a nada terem?

Certamente haverá quem pense que estamos a ser demagógicos. Porém, quem assim pensar, não ouve, como infelizmente nós ouvimos, diariamente, os lamentos dos Colegas acerca da situação das empresas a que prestam serviços.

Resta-nos, assim, Prezados Leitores, Colegas e Amigos, porfiar, sempre, tentando, com o nosso exemplo, dar a entender que existe alguma esperança pelo que devemos, com todas as nossas forças, remar contra a maré.

João Colaço