2011

Setembro


Uma questão de bom senso
Após lermos o rol das medidas preconizadas pela Troika, ficamos com uma sensação de incredulidade...


Após lermos o rol das medidas preconizadas pela troika, e constantes do Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica, ficamos com uma sensação de incredulidade pois a esmagadora maioria das mesmas já fora alvo de infinitas discussões entre os partidos sem que jamais se tivesse conseguido qualquer consenso sobre a sua implementação.

Será que devemos estar gratos por, ao termos mergulhado tão profundamente nesta terrível crise, a possível solução para os problemas que afligem o nosso país residir nas medidas que nos são impostas do exterior e que nunca seriam postas em prática de moto próprio?

Cremos que os Prezados Colegas e Amigos estão a par do conteúdo das supracitadas medidas, porém, se não for esse o caso, poderão consultá-las em “Sistematização das medidas do programa de apoio económico e financeiro a Portugal até ao final de 2011”, e efectuar o respectivo download se assim o desejarem, no site do Ministério das Finanças.

Não concordamos com todas elas, tal como muitas outras pessoas, mais abalizadas do que nós próprios, também o têm afirmado, pois entre essas medidas, algumas, embora pareçam, à primeira vista, razoáveis, a sua aplicação terá efeitos mais perniciosos do que benéficos.

É o que sucede, por exemplo, com uma das referidas medidas que a troika preconizou, a redução da Taxa Social Única (TSU). Esta medida é aplaudida por algumas associações empresariais, assim como por alguns economistas, mas é criticada, de acordo com as notícias, por um número maior destas entidades e pessoas, porque em contrapartida, para compensação da perda dessa receita, ocorrerá um aumento das taxas do IVA, o que, sopesando as consequências, se traduziria em maior contracção, agravando o clima recessivo em que vivemos e, assim, provocando mais falências, mais desemprego e menos receitas para o Estado.

Pensamos que a alternativa que tem sido apresentada por alguns economistas, o aumento do horário de trabalho semanal em mais três ou quatro horas, ocasionando uma redução do preço do trabalho, com o consequente aumento de competitividade das empresas, seria mais favorável economicamente para o país dado que não teria as consequências recessivas que qualquer aumento de impostos sempre acarreta. 

Assim, o que está primordialmente em causa é uma questão de bom senso. Cremos que não é pelo simples facto (que não é tão simples como isso, reconhecemos) de esta medida constar entre as preconizadas pela troika que terá, forçosamente, de ser posta em prática, desde que seja demonstrado que melhores resultados serão alcançados se os custos do trabalho forem reduzidos sem que tal exija mais aumento de impostos.

João Colaço