2013

Janeiro


A esperança desesperada


Para além do sentimento, misto de impotência e de revolta, que nos assola, por nos sentirmos aprisionados na teia do aumento de impostos e da redução dos montantes das deduções, o que se irá traduzir num enorme agravamento da tributação em sede do IRS, somos também confrontados com a atitude dos nossos “governantes” que, nas suas intervenções públicas, transmitem uma sensação de contentamento e de satisfação, aparentando, mesmo, um ar feliz, ao assumirem que estão a impor medidas que vão além das que a troika inscreveu no memorando de entendimento.

Ora estas atitudes, aliadas às consequências que a elaboração, aprovação e entrada em vigor, de legislação menos cuidada, acarreta para as entidades empresariais, com a constante indefinição do que será o futuro próximo, dado que o que hoje é tido como certo amanhã já não o é, atemorizam tudo e todos, pois as perspectivas tornam-se cada vez mais negativas a cada dia que passa.  

Além do mais, o que devemos pensar de governantes que, num impulso cego e voluntarista, ao arrepio de tudo e de todos, aumentaram a taxa do IVA de 13% para 23% no sector da restauração, o que se traduziu, como todos sabemos, no encerramento de largos milhares de estabelecimentos, provocando o desemprego a dezenas de milhar de trabalhadores...

E são estes mesmos governantes que, na Lei do Orçamento do Estado para 2013, através do artigo 254.º - Avaliação do regime fiscal aplicável aos sectores da hotelaria, restauração e similares, afirmam que reconhecendo a importância que os sectores da hotelaria, restauração e similares têm para a economia nacional, nomeadamente no seio das micro, pequenas e médias empresas, tanto pelo importante contributo na geração de emprego, como pela significativa contribuição para o bom desempenho do sector turístico nacional, decidem criar um grupo de trabalho interministerial que, em colaboração com os representantes dos sectores, avalie o respectivo regime fiscal.     

Não podemos deixar de desabafar que, depois da casa roubada, trancas na porta...

Permitimo-nos, ainda, manifestar que seja qual for o teor do relatório que venha a ser elaborado pelo supra referido grupo de trabalho, estes governantes não darão a mão à palmatória e continuarão a manter a taxa de IVA de 23% (se entretanto a taxa normal não for aumentada mais um ou dois pontos percentuais...) no sector da restauração, pois jamais se permitirão vir a público reconhecer que erraram...

Por vezes vem-nos à memória a frase retirada da bíblia, “Perdoai-lhes Senhor, eles não sabem o que fazem”, mas como pode um povo perdoar aos que não sabendo o que estão a fazer afirmam estar convictos da justeza das suas teses ainda que o povo sofra?

É comum dizer-se que a esperança é a última coisa a morrer, mas tememos que venhamos a deixar de estar esperançados na esperança...

João Colaço