Abril
Quanta mediocridade...
O ambiente para nós, Técnicos Oficiais de Contas, é, a cada dia que passa, mais opressivo e deprimente, devido à catastrófica situação em que a economia se encontra mergulhada, e não se vislumbrando a mínima centelha de melhoria do actual estado de coisas, o sentimento de impotência torna-se avassalador.
Para além destes factos existe uma outra situação que é tão ou mais grave do que as que acabamos de referir, é que sentimos que as chamadas forças vivas deste nosso País padecem de uma atroz mediocridade como não temos memória de ter existido anteriormente.
Não se vislumbra, desde a presidência da República aos governantes e ao próprio parlamento, a mínima vontade de quererem ultrapassar esta crise, pondo de parte as questiúnculas que os separam e abraçando as possíveis facetas que possam ser consensuais.
A mediocridade é de tal modo evidente que ao olharmos para as pessoas atrás referidas, o que vemos nas suas atitudes e o que ouvimos nas suas tiradas, é que demonstram ser, autenticamente, uns vencidos da vida, que desistiram já de lutar contra a adversidade e limitam-se a impor cegamente as directrizes traçadas por uma troika que ignora, de um modo aviltante, as consequências da aplicação das suas imposições.
Note-se que a expressão “vencidos da vida”, a eles por nós aplicada, tem precisamente esse sentido, de estarem derrotados pela vida, e não tem qualquer conotação com o grupo, que adoptou esta designação, constituído por alguns dos maiores intelectuais do final do século XIX, que lutaram com grande empenho pela modernização do País, e que nada tinham de medíocres.
A mediocridade dos dignitários deste nosso País verifica-se através dos discursos de cariz institucional em que é afirmado, nas entrelinhas, que a crise em que estamos mergulhados deriva dos gastos com as pensões, com os cuidados com a saúde e com a educação, gastos estes que entendem ser excessivos, mas nunca pondo em causa os desvarios dos mercados financeiros, para os quais advogam, mas somente agora, uma mais eficaz regulamentação...
Mas continuam, além do mais, e ao arrepio da ética e da moral, a sonegar aos reformados e pensionistas parte das pensões, para as quais contribuíram durante a sua vida activa e que foram então sujeitas a impostos. Ora o tipo de afirmações constante dos seus discursos tem o efeito de levar as pessoas a temerem ainda mais o futuro e, portanto, a retraírem os seus gastos ao mínimo dos mínimos, pondo muitas vezes em causa a saúde pois deixam de se alimentar convenientemente e de adquirir os remédios necessários.
Obviamente que o comércio se ressente pois deixa de haver procura, o que por sua vez leva à redução da produção, num ciclo vicioso que é vulgarmente designado como “pescadinha de rabo na boca.
Nesta situação, os TOC’s passam muito mais tempo a ouvir os desabafos dos seus clientes do que a elaborar as respectivas contabilidades, e quando lhes apresentam as declarações periódicas para pagamento de impostos vêem-se confrontados com confissões de absoluta impossibilidade financeira para efectuar esses pagamentos.
Esta crise agravou-se, pois, substancialmente, não por culpa da eventual mediocridade de empresários e trabalhadores mas sim por culpa da enorme mediocridade dos agentes políticos, que não possuem o mínimo engenho e saber para devolver a esperança a este País...
João Colaço