Agosto
O espanto do espanto...
Não podemos deixar de nos sentirmos espantados com o espanto (perdoe-se-nos o trocadilho) com que os membros do Governo afirmam receber as notícias do descalabro das receitas fiscais, do brutal aumento do desemprego e do previsível incumprimento do défice a que se tinham comprometido.
Somos mesmo levados a questionar se esse espanto é real, dado que as referidas notícias, resultantes das medidas por eles implementadas, eram previsíveis desde o momento em que as congeminaram, já que nós próprios, que não primamos por possuir conhecimentos acima da média, temos vindo a referir desde há já há mais de um ano, mês após mês, nestes editoriais, que o desenfreado aumento dos impostos acarretaria, inevitavelmente, uma recessão sem precedentes no nosso país com as consequências nefastas que prevíamos e que infelizmente se têm vindo a concretizar.
Mas o que é mesmo espantoso é que o Governo, confrontado com o descalabro da política adoptada, afirma que esta política é a mais correcta e necessita de ser ainda mais aprofundada, pelo que novos aumentos de impostos são já assumidos de modo velado pelos responsáveis ministeriais, o que, obviamente, irá agravar ainda mais a profunda recessão em que estamos mergulhados.
E, espanto dos espantos, o Governo afirma de modo categórico e com laivos de triunfalismo que estamos a percorrer o caminho certo e que o desemprego é um “coiso” que até permite a abertura de novas oportunidades para se triunfar na vida. Não nos espantaria que quem tal afirma nunca tenha estado inserido no mercado de trabalho normal, ou seja, sem o respaldo de empresários amigos...
Não nos espantaria, também, e apesar da aparentemente espantosa afirmação do Primeiro Ministro “que se lixem as eleições”, que em 2015, ano de eleições legislativas, toda esta política se inverta para que nesse ano as eleições não sejam lixadas para os actuais detentores do poder político...
João Colaço