2012

Janeiro


E os netos dos nossos netos?
Pensamos que o resultado não poderia deixar de ser outro que não o que ocasionou a hecatombe que desabou...


Nos mais recentes editoriais que escrevemos temos vindo a criticar, com alguma veemência, o que, no nosso entender, tem vindo a falhar na estratégia (??????) do Governo para ultrapassar a grave crise em que nos encontramos mergulhados, muito por culpa própria de todos nós, mas também e principalmente incentivados pelos inomináveis mercados que, movidos pela mais insaciável ganância, deixaram de cumprir as regras e os ditames a que estavam sujeitos perante as respectivas entidades de supervisão.

Pensamos que o resultado não poderia deixar de ser outro que não o que ocasionou a hecatombe que desabou, em primeiro lugar, sobre a economia dos Estados Unidos da América e que acabou por alastrar também pela União Europeia.

Note-se que não nos encontramos sós nesta onda de desabafos, em que não sentimos por parte dos (des) governantes a mínima assunção de humildade ou de desconforto como reacção aos ataques não só violentos como mesmo virulentos contra as classes mais desfavorecidas e carenciadas da sociedade portuguesa.

Cremos, mesmo, que as nossas intervenções têm sido das menos contundentes o que não significa, de modo algum, a mínima solidariedade com (des) governantes que manifestam publicamente a sua rendição perante as imposições leoninas e usurárias a que a troika nos amarrou, ao afirmarem que os nossos jovens, ainda que com cursos superiores, não tendo o mínimo futuro no nosso País, podem e devem emigrar.

Por muito que nos custe, esta afirmação por parte de, pelo menos, três membros do (des) Governo, é a prova mais cabal de que estes não vislumbram a mínima melhoria ou recuperação económica que permita evitar o êxodo dos nossos mais conceituados profissionais assim como o aumento do desemprego que, diariamente, vai batendo todos os máximos possíveis e imaginários.

Mas o desconforto que sentimos perante a actual situação do nosso País ainda mais aumenta quando verificamos que a medida mais emblemática do ministro da economia, para além da eliminação de alguns feriados, é a que consta da Proposta de Lei n.º 36/XII, ou seja o aumento do período normal de trabalho até 30 minutos por dia e duas horas e 30 minutos por semana, sem acréscimo de retribuição, sendo este aumento proporcional no caso dos trabalhadores a tempo parcial.

Face à cada vez mais acentuada retracção económica, que determina que as empresas não tenham outra opção que não seja o seu encerramento por escassez de encomendas, ou o despedimento de trabalhadores numa tentativa de sobrevivência, é esta a panaceia do aumento do período de trabalho que vai salvar a economia do País?

Mas a reacção mais sintomática a esta proposta de lei foi a atitude dos senhores deputados da Assembleia da República, que suspenderam os trabalhos da Assembleia entre 22 de Dezembro e 3 de Janeiro...

Estamos, porém, no início do ano, o que sempre pressupõe a esperança que melhores dias virão. Fiquemos, pois, com a esperança que os netos dos nossos netos, se entretanto os respectivos progenitores não tiverem emigrado e adoptado outras nacionalidades, possam viver em Portugal com a dignidade e o nível de vida a que todos temos direito mas a que somente alguns poucos têm acesso.

João Colaço