Fevereiro
A injustiça da justiça
O tremendo esforço de sacrifício que é exigido aos portugueses, não é compaginável com o clima de impunidade...
Pensamos que é quase unânime o sentimento de revolta, que grassa no nosso País, face ao cada vez mais lento desempenho dos tribunais, no julgamento de inúmeros processos, em que são arguidos, nomeadamente, presumíveis prevaricadores que se locupletaram, sem pejo, da “res publica”.
Só não nutre este sentimento de revolta quem beneficia deste “stato quo” e utiliza todos os artifícios legais com vista a que os seus actos ilícitos prescrevam, após o que virão para a praça pública afirmar a sua inocência porque nem sequer acabaram por ser julgados.
Os cidadãos sentem-se, assim, não só desmotivados mas também como que incentivados também a prevaricar, dado que, aparentemente, as hipóteses de não serem sancionados são grandes se lhes forem aplicadas as mesmas regras e procedimentos que são utilizados nos processos de actos ilícitos, e, entre eles, os chamados “crimes de colarinho branco”.
Ora o tremendo esforço de sacrifício, que não é pedido mas sim exigido aos portugueses em geral, não é compaginável com o clima de impunidade de que goza uma franja da nossa sociedade.
Para que possamos vencer e ultrapassar a profunda crise em que estamos mergulhados tem que existir o sentimento de que não existem privilegiados nem pessoas inimputáveis, a não ser que o sejam devido a doença.
Estamos crentes que se fosse demonstrado pelos titulares dos órgãos de soberania, com toda a transparência, o seu verdadeiro empenho na solução dos problemas com que o País se debate, pelo que até prescindiriam das mordomias que os lugares que ocupam lhes proporcionam, seria então possível alcançar-se um consenso a nível nacional de que, sendo este o nosso País, todos devemos contribuir para que as nossas obrigações para com o exterior sejam cumpridas o mais rapidamente possível.
Mas esse desígnio tem que ser assumido por todos, empreendedores, trabalhadores, pensionistas, investidores, estudantes, forças militares e de segurança, enfim, todos, e permitam-nos aqui salientar a magistratura, que se for mais célere no desempenho da sua missão, não permitindo que se acentue o sentimento de revolta a que fazemos referência no primeiro parágrafo deste editorial, transmitirá para a sociedade a certeza de que não existem pessoas acima da lei.
Com isto queremos dizer que o País está cansado da injustiça da justiça não ser posta em prática...
João Colaço