Junho
Recordar também é viver
No dia 21 do corrente mês de Junho comemora-se o 1.º aniversário da posse do actual Governo. Pensamos que a esmagadora maioria dos cidadãos deste nosso País não terá motivos para embandeirar em arco por tal motivo, pois está muito mais pobre, muito mais desamparada e com o seu futuro muito mais negro e pouco esperançoso...
Mas a actual situação era previsível, atendendo às medidas que foram sendo tomadas pelo Executivo, tal como viemos a escrever nos editoriais dos meses subsequentes à referida tomada de posse, de que recordamos alguns excertos,
Assim, em Julho de 2011, subordinado ao título “Ultrapassar a crise”, referimos, no penúltimo parágrafo: “Não somos, nem pretendemos ser, arautos e profetas do descalabro que, como um vórtice de proporções colossais, tudo suga para as profundezas de um abismo que, temos essa inquebrantável esperança, ainda podemos evitar, assim exista o bom senso de não olharmos unicamente para o “já” e consigamos elaborar um plano de salvação nacional, à falta de melhor designação, a médio e longo prazo”.
Em Agosto de 2011, subordinado ao título “Um desvio colossal”, referimos, no seu primeiro parágrafo: “A frase em epígrafe, da autoria do actual 1.º Ministro, que tanta celeuma tem ocasionado, dado que segundo é afirmado pelos partidos da oposição, e não só, não foi explicitada nem devidamente fundamentada, contém em si mesma a maior das verdades relativamente ao que se encontra expresso, por exemplo, na Constituição da República, e o que tem sido a prática de quem nos governa”.
Em Setembro de 2011, sob o título “Uma questão de bom senso”, referimos, no último parágrafo: “Assim, o que está primordialmente em causa é uma questão de bom senso. Cremos que não é pelo simples facto (que não é tão simples como isso, reconhecemos) de esta medida constar entre as preconizadas pela troika que terá, forçosamente, de ser posta em prática, desde que seja demonstrado que melhores resultados serão alcançados se os custos do trabalho forem reduzidos sem que tal exija mais aumento de impostos”.
Em Outubro de 2011, sob o título “Morrer da doença ou da cura”, referimos, num dos seus parágrafos: “Veja-se, porém, que em mais de 100 dias de governo, ao invés dos mais diversos anúncios, todos eles relacionados com aumentos de impostos, não veio a lume a mínima medida concreta e objectiva com vista ao relançamento económico do País”.
Em Novembro de 2011, sob o título “Os chineses da Europa”, referimos no penúltimo parágrafo: “Assim, graças à tenacidade deste Governo, em especial dos seus ministros da economia e das finanças, que sagazmente souberam descortinar o caminho para colocar a nossa economia ao serviço de outras economias bem mais fortes, merecendo por esse facto os rasgados encómios, por exemplo, da chanceler alemã ... “
Em Dezembro de 2011, sob o título “Antes a morte que tal sorte”, referimos no seu final: “Deixamos, ainda, uma outra dica. Os funcionários da administração tributária devem ser munidos de meios que lhes permitam tributar quem explore a terra, por exemplo, nos jardins ou quintais das casas de habitação, assim como aqueles que plantam salsa, coentros, tomateiros, alfaces, couves, etc., etc., até nas varandas e, ou, terraços, em floreiras ou vasos.
Como se verifica, basta querer, e este Governo já demonstrou que quer, pelo que adicionando as medidas aqui aventadas com as que já foram tomadas, os portugueses ainda suspirarão que vale mais a morte que tal sorte...”
Em Janeiro de 2012, sob o título “E os netos dos nossos netos?”, referimos, no último parágrafo: “Estamos, porém, no início do ano, o que sempre pressupõe a esperança que melhores dias virão. Fiquemos, pois, com a esperança que os netos dos nossos netos, se entretanto os respectivos progenitores não tiverem emigrado e adoptado outras nacionalidades, possam viver em Portugal com a dignidade e o nível de vida a que todos temos direito mas a que somente alguns poucos têm acesso”.
Em Fevereiro de 2012, sob o título “A injustiça da justiça”, referimos no, seu começo: “Pensamos que é quase unânime o sentimento de revolta, que grassa no nosso País, face ao cada vez mais lento desempenho dos tribunais, no julgamento de inúmeros processos, em que são arguidos, nomeadamente, presumíveis prevaricadores que se locupletaram, sem pejo, da “res publica”.”
Em Março de 2012, sob o título “Será que a ausência de soluções é a solução?”, referimos no último parágrafo: “Reconhecemos que criticar é fácil assim como reconhecemos que o Governo tem uma tarefa extremamente difícil para levar a cabo. O que lamentamos, acima de tudo, é não vermos nem sentirmos a existência de uma estratégia de desenvolvimento que inverta o curso dos acontecimentos, e é essa ausência de soluções que mais nos mortifica e nos deixa sem resposta aos apelos dos nossos clientes”.
Em Abril de 2012, sob o título “O que nos assusta”, referimos, no final: “Pensamos que é caso para dizer que não há direito que num Estado de Direito tal possa suceder, mas sucede... O que é preciso é que a Administração Fiscal tenha alguém a quem possa exigir (nestas situações apetecíamo-nos dizer “extorquir”) os tributos, ainda que nada tenham a ver com eles!”
E, finalmente, em Maio de 2012, sob o título “Sofismas”, referimos na sua parte final: “Repare-se, porém, na atitude que este mesmo inefável Ministro assume quando no estrangeiro. Assim, nas entrevistas televisivas concedidas, por exemplo nos Estados Unidos da América, ele fala de um modo desenvolto, sem uma pausa, com enorme à vontade, o que nos leva a questionar se será assim por se sentir em casa quando se encontra no estrangeiro, e se sente no estrangeiro quando se encontra em Portugal, ou se, simplesmente, estará a “gozar” com todos nós... Mas talvez este seja o nosso sofisma...
João Colaço