Novembro
Um povo em vias de extinção
É com um misto de tristeza e de revolta que escrevemos este editorial, pois não podemos deixar de exprimir esses sentimentos face à insensibilidade com que o Governo aplica medidas de austeridade de tal modo violentas que estão a conduzir o nosso povo não a uma morte lenta mas sim a uma morte acelerada.
Cremos que a esmagadora maioria das pessoas sente-se violentada, por ser espoliada de verbas significativas dos seus rendimentos, provenientes do trabalho ou de pensões, para acudir a uma crise que não cessa de crescer, pelo que os sacrifícios a que estamos sujeitos acabam por ser inglórios.
Aparentemente, pensamos que só aparentemente, pois não cremos que os indivíduos que compõem o Governo sejam tão estúpidos e ignorantes que não se apercebam da realidade, o aumento brutal (significativo, na linguagem do senhor ministro das finanças...) dos impostos está a corresponder à política que o Governo delineou, dado que a “troika” e a Comissão Europeia, segundo afirmam, somente avaliam os impactos macroeconómicos dessas medidas, e que essa política está a levar o País para o bom caminho...
Repare-se que este colossal (para utilizar um termo muito do agrado do senhor ministro das finanças...) aumento de impostos tem dois objectivos. Um, o de com as receitas fiscais diminuir o défice. O outro, ao deixar os portugueses mais pobres, sem poder de compra, a diminuir as importações dado que não há quem possa adquirir esses bens, o que também contribui para diminuir o défice.
No campo meramente abstracto tem a sua lógica. Porém, no campo prático da vida, as implicações são terríveis, dado que provoca um efeito de dominó, pois com o empobrecimento das pessoas deixa de haver procura, não só de bens que eram importados como dos bens e serviços produzidos e prestados internamente, com o consequente aumento de falências e o correspondente aumento do desemprego e, concomitantemente, aumento das prestações sociais, o que originará novos aumentos de impostos.
Mas o Governo afirma que a solução é prosseguir, sem qualquer desfalecimento, a política seguida até aqui, pois os mercados vêem com bons olhos o fanatismo com que têm sido aplicadas estas medidas...
Face a esta situação o que fazem os portugueses? O que os bons pais de família fazem. Analisam o presente, olham para o futuro, e questionam-se, mas vamos gerar filhos que, previsivelmente, vão usufruir de menos cuidados de saúde, de menos apoio escolar, e, quando forem adultos, se conseguirem postos de trabalho, auferirem salários de miséria para que o país seja competitivo?
Obviamente que os portugueses não querem arcar com o ónus de, no futuro, serem confrontados com os desabafos de descendentes que perguntarão o porquê de ter nascido, e não terem qualquer resposta...
E será assim, não só com a complacência como com a benção deste Governo, que a natalidade vai decrescendo de um modo inexorável, o que se traduzirá num povo em vias de extinção...
João Colaço