Setembro
Novas oportunidades
O Primeiro Ministro afirmou, no passado dia 14 de Agosto, na festa do Pontal, no que se convencionou apelidar de rentrée política do PSD, que 2013 já não será de recessão mas sim o ano da estabilização económica, de preparação da recuperação e de alívio para as famílias.
Não estivéssemos todos nós não só tão causticados com as consequências desta brutal crise como também conscientes de que a mesma se vai agravar ainda mais, e as palavras do Primeiro Ministro seriam um lenitivo que serviria para minorar a desesperança em que estamos mergulhados.
Porém, atendendo às recentes notícias, que nos deram a conhecer o contínuo aumento do número de desempregados, que já ultrapassou a taxa de 15%, a mais elevada de sempre, que o PIB diminuiu 3,3% no segundo trimestre deste ano e que as receitas fiscais, apesar do aumento da taxa do IVA no sector da restauração, caíram cerca de 3,5%, situações estas que põem em causa o cumprimento do défice de 4,5 do PIB no final do corrente ano, não podemos deixar de considerar as afirmações do Primeiro Ministro como ofensivas da nossa inteligência.
Na realidade, o Primeiro Ministro, ao invés de assumir, e agora seria com toda a propriedade que o poderia fazer, que se verifica, neste momento, um desvio colossal entre o que foi orçamentado e o que foi concretizado, vem, também, afirmar que “estamos no bom caminho” e que se forem necessárias novas medidas de austeridade elas serão tomadas e por ele próprio anunciadas!
Veja-se, também, a recente polémica acerca da “privatização” da RTP (e do correspondente serviço público...) desencadeada por um assessor do Governo, o denominado ministro-sombra, António Borges, e não pelo ministro responsável pela respectiva pasta, o que nos leva a pensar que para além de ser um possível balão de ensaio, para analisar a reacção pública à medida anunciada, serve também para afastar a atenção de todos nós do desvio colossal a que acima nos referimos.
Verificamos, assim, como soe dizer-se, para mal dos nossos pecados, que o discurso governamental está a ficar incoerente ou evasivo, o que não augura, em qualquer dos casos, nada de bom para o nosso futuro colectivo.
Por último, mas não menos importante, há uma dúvida que tem permanecido no nosso subconsciente sem resposta até agora. Por onde anda o Ministro da Economia, dado que esta teima não só em manter-se inanimada como mesmo em retracção, apesar do aumento da competitividade ocasionada pelo extraordinariamente bem conseguido custo do trabalho, embora unicamente à custa dos trabalhadores?
Mas há que termos esperança pois, segundo o Primeiro Ministro, temos que deixar de ser piegas dado que esta situação proporciona-nos novas oportunidades...
João Colaço