Março
Será que a ausência de soluções é a solução?
Com a espiral de encerramento de empresas, e a consequente taxa do desemprego a aumentar, a base tributável vai-se reduzindo a um ritmo exponencial.
Mês após mês, no momento em que decidimos escrevinhar o editorial, somos confrontados com a enorme dúvida acerca da matéria que deveremos abordar, dado que existem inúmeros assuntos que merecem a nossa atenção, mas, por muito que o desejemos, não temos conseguido “descolar” da terrível situação em que nos encontramos mergulhados.
E não conseguimos “ignorar” este tema, principalmente, devido às funções que exercemos como TOC’s, pois somos confrontados, no dia-a-dia, com situações calamitosas de clientes, que, quantas vezes com o desespero na alma, nos solicitam, em última instância, uma palavra de esperança que lhes permita ainda sonhar com a recuperação das empresas nas quais tudo investiram e que sentem irremediavelmente soçobradas.
Estamos certos, para mal de todos nós, que também os Prezados Leitores, Colegas e Amigos, sentem esta situação de quase impotência no sentido de sermos o esteio e o amparo dos empresários, que nos vislumbram como possíveis tábuas de salvação, quando nós próprios lutamos com as mesmas dificuldades e sentimos igual revolta face à terapêutica que tem vindo a ser aplicada pelo Governo com o objectivo da redução do défice.
Repare-se que o que temos vindo a afirmar, atentem ao que escrevemos nos últimos editoriais do ano de 2011, já se está a concretizar. Dissemos, então, que era previsível que as medidas tomadas redundariam em recessão profunda pelo que mesmo com os sucessivos aumentos de impostos a receita fiscal tenderia a diminuir.
Como já foi tornado público, a receita fiscal de Janeiro caiu 7,9% em termos homólogos, o que não é de espantar (será que só Governo é que foi apanhado de surpresa?...) pois com a espiral de encerramento de empresas, e a consequente taxa do desemprego a aumentar, a base tributável vai-se reduzindo a um ritmo exponencial.
Mas o Governo canta vitória, acenando que estamos ser mais competitivos dado que reduzindo-se o número de feriados os trabalhadores vão laborar mais tempo pelo mesmo dinheiro… A questão é que para laborar são necessárias empresas… Para criar empresas é preciso que exista procura… Ora a população, a cada dia que passa, está mais pobre e praticamente sem meios para adquirir os bens indispensáveis para a alimentação, quanto mais para quaisquer outros bens…
Reconhecemos que criticar é fácil assim como reconhecemos que o Governo tem uma tarefa extremamente difícil para levar a cabo. O que lamentamos, acima de tudo, é não vermos nem sentirmos a existência de uma estratégia de desenvolvimento que inverta o curso dos acontecimentos, e é essa ausência de soluções que mais nos mortifica e nos deixa sem resposta aos apelos dos nossos clientes.
João Colaço