Dezembro
E quando imaginávamos, pelo menos nós próprios, que o País já tinha batido no fundo, não só face ao garrote fiscal que o governo aplicou neste últimos três anos aos trabalhadores e pensionistas, às “malabarices” com que sistematicamente este mesmo governo nos brinda, assim como a implosão do Grupo Espírito Santo, e que arrastou consigo o BES, com as consequências catastróficas de que ainda não conhecemos a plenitude, eis que surge a detenção do anterior 1.º ministro.
Esta notícia, que obviamente agrada a muita gente, e principalmente, como não pode deixar de ser, à maioria que suporta eleitoralmente o actual governo, e desagrada a outros, tem, no nosso entender, um impacto muito negativo, a acrescer ao trauma desencadeado pelas hecatombes sucessivas que se têm verificado nas instituições de (des)crédito, BPN, BPP e BES.
Salientamos que, sendo um princípio fundamental do Direito, um cidadão deve ser considerado presumivelmente inocente até que se verifique a sua condenação, o modo como esta detenção tem sido tratada, quer pelo Ministério Público quer pela comunicação social, lança um manto de descrédito, ou talvez devamos dizer, aumenta esse ambiente de descrédito, que envolve os políticos em geral.
Pensamos ser óbvio que com tal ambiente os cidadãos se sentem ainda mais desmotivados e com níveis acrescidos de revolta interior face às afirmações dos ministros de que existem indícios de uma melhoria acentuada na actividade económica, o que permite não serem considerados novos aumentos de impostos.
Não subscrevemos, talvez por deficiência ou incapacidade nossa, tal visão optimista dado que os contactos que mantemos com os nossos clientes nos sugerem precisamente o contrário, ou seja, as empresas sentem cada vez mais dificuldade na prossecução da sua actividade, com o agravante de terem como sócio “maioritário” uma entidade invisível mas omnipresente denominada “Estado”, que as “suga” até ao tutano.
É, pois, com este “estado de alma”, que os empresários olham para o “descambar” de entidades, instituições e pessoas, o que os leva a questionar se vale a pena continuar a lutar para não soçobrar neste mar encapelado que desabou, qual tsunami, sobre todos nós.
Temos esperança, se ainda é possível termos esperança, que este último mês do ano seja o final de todo este descrédito e que o novo ano que se avizinha, do qual se destaca a possibilidade de um novo elenco governante, resultante do acto eleitoral, consiga implementar uma dinâmica que permita e incentive que todos os parceiros sociais se unam numa cruzada para repor o nosso País numa senda de progresso e de paz social em que a solidariedade seja o pilar principal.
João Colaço