2014

Agosto


E quando pensávamos que o País atingira o limite, somos confrontados com situações que nos fazem descrer de um futuro menos “negro” do que o que temos vivido no passado recente.

Repare-se que para além das notícias sobre o abrandamento das exportações, do aumento, que se mantém constante, da dívida pública, da previsível hipótese de não se atingir, no final do ano, os 4% de défice orçamental, “rebenta” agora o escândalo do Grupo Espírito Santo.

Recordamos que no editorial do passado mês de Julho referimos, em termos de alguma ironia, que segundo foi referido pelo responsável máximo do banco em causa, “a culpa foi do contabilista”...

E referimos, também em termos de ironia, que nas costas dos outros vemos as nossas.

Aquele nosso desabafo teve o intuito de alertar todos os Prezados Colegas e Amigos de que, infelizmente, na prática, a esmagadora maioria dos nossos empresários tem o triste hábito de “sacudir a água do capote”, como soe dizer-se, em linguagem terra a terra, para cima dos responsáveis pela contabilidade e respectivas declarações fiscais, por todas as consequências derivadas de erros e omissões em que os empresários são férteis, devidos, principalmente, à fraca ou nula cultura empresarial que demonstram.

Mas retomemos a grave crise em que mergulhou o Grupo Espírito Santo, e que, tal como salientamos no editorial do mês transacto, está a atingir proporções inimagináveis, o que não deixa de preocupar todos quantos temem pelo sistema económico/financeiro em que está alicerçada a economia deste nosso pobre País, cujas elites têm primado, e assim continuam, por demonstrar uma indigência ética e social despudorada...

Com que estado espírito os nossos concidadãos vão continuar a ouvir os responsáveis (???) governamentais afirmar que as pessoas viveram e vivem ainda acima das suas possibilidades e que foi esse facto que originou o pedido de resgate financeiro às instâncias internacionais, com as consequências brutais que a “troika” impôs a todo o povo?

Será possível, algum dia, efectuar o levantamento de todas as manipulações dos mercados financeiros, levadas a cabo pelas instituições bancárias, que exauriram nações inteiras, levando à miséria extrema centenas de milhões de pessoas, para benefício exclusivo de uma escassíssima minoria que se intitulará, certamente, de elite? Cremos que se isso fosse possível poderíamos então almejar um futuro menos “negro”... 

João Colaço