2008

Dezembro


Optimismo – Pessimismo
Os dias que correm não são nada fáceis para qualquer um de nós, Técnicos Oficiais de Contas, com a agravante de, por sermos as pessoas que lidam directamente com a economia real...


Nos últimos meses, a grave crise económica que deflagrou com epicentro nos Estados Unidos da América, mas cujas ondas de choque têm vindo a irradiar para o resto do mundo, não tem cessado de se agravar e com consequências que são, segundo pensamos, inimagináveis no momento presente.

Assim sendo, os dias que correm não são nada fáceis para qualquer um de nós, Técnicos Oficiais de Contas, com a agravante de, por sermos as pessoas que lidam directamente com a economia real, ou seja com os próprios empresários e muitas vezes com os seus colaboradores, sermos questionados a todo o momento acerca da possível evolução dos acontecimentos.

Pode parecer estranho a quem não conheça suficientemente bem a actividade que desenvolvemos, que os empresários nos questionem sobre um futuro próximo no que se refere a questões de contracção ou expansão da actividade económica, sobre eventuais alterações de impostos ou das taxas destes, sobre quais as possíveis consequências da situação periclitante em que algumas instituições de crédito se encontram e que originam como que um “efeito de dominó”, o que acaba por cercear, ou limitar, a concessão de crédito por instituições bancárias aos empresários e público em geral.

Cremos que devemos sentir alguma satisfação e, porque não, um pouco de orgulho, por sermos questionados desta forma, o que indicia que continuamos a manter uma credibilidade que vai escasseando por outros sectores.

Mas, como em tudo na vida, existe também o reverso desta confiança, reverso este que se traduz num dilema imortalizado por Shakespeare – Ser ou não ser: eis a questão.

Como dissemos logo de início, a crise tem vindo a agravar-se por todo o mundo e, apesar das “injecções” de meios monetários, por parte de inúmeros governos, no sistema financeiro, o “buraco” vai aumentando ao invés de diminuir, o que mina a confiança dos mercados. Ora é neste ponto, que consideramos nevrálgico, a confiança dos mercados, que reside a maior incerteza quanto ao futuro próximo.

Daí termos citado a célebre frase – Ser ou não ser: eis a questão, e a termos extrapolado para o momento actual. Ser ou não ser optimista – eis a questão, ou, alternativamente, ser ou não ser pessimista, eis a questão.

Nas respostas que temos dado a quem nos interpela sobre este terrível acervo de acontecimentos, temos procurado responder de modo optimista, pois consideramos que a única saída para a crise é a retoma da confiança, e, se demonstrarmos pessimismo, a confiança esvai-se ainda mais e nada restará senão uma inquietude que nos tolhe a iniciativa e nos arrasta para o desânimo e para a desistência de lutar.

Quem tiver a paciência de ler este arrazoado de ideias poderá pensar que ao procurarmos ser optimistas estaremos a ir contra toda a lógica atendendo até ao facto de afirmarmos que as consequências da crise são neste momento inimagináveis. Mas creiam os Prezados Leitores, Colegas e Amigos, que talvez pior do que a crise é a marca genética, que está impressa no nosso povo, de que a desgraça é sempre maior do que é na realidade, e é essa marca genética que nos torna “cinzentos” e tristonhos, ou melancólicos, como lhe queiramos chamar. 

E é contra esta marca genética, contra este pessimismo, cuja fama já vem de longe, como expressava um antigo slogan publicitário ao brandy Constantino, pois consta da nossa História a figura, podemos apelidá-la de “mítica”, dos “Velhos do Restelo”, que devemos lutar e procurar transmitir a todos quantos nos rodeiam um pensamento optimista e que é nos momentos de adversidade que surgem, quantas vezes, novas oportunidades.

Procuremos, pois, ao invés de sermos pessimistas, ser o mais optimistas que nos for possível, o que nos proporcionará um maior alento para combater e ultrapassar a presente crise.

João Colaço