2008

Junho


CHOQUES ATRÁS DE CHOQUES
...saberemos ultrapassar através da capacidade, de que sempre temos dado provas, de fazermos das fraquezas forças e vencermos os adamastores que nos querem vergar.


Os Prezados Leitores que nos perdoem o teor do título deste editorial, e esperamos que não se sintam chocados por ele, mas não podemos deixar de expressar o quanto nos choca a sucessão de choques que temos vindo a sofrer.

Poderá parecer, à primeira vista, que estamos a elaborar trocadilhos, mas as questões a que nos iremos referir são demasiado sérias para entrarmos nesse campo, já que o que nos leva a desabafar convosco é não só a gravidade das situações como o seu número sempre crescente.

Repare-se que o choque inicial, a crise do subprime nos Estados Unidos da América, ocasionou a desvalorização do dólar, face ao euro, de tal modo que afectou de modo significativo o volume das nossas exportações. Em simultâneo verificou-se o choque do encerramento e posterior deslocalização de uma série de fábricas, regra geral para países do leste da Europa, a que correspondeu o choque do aumento acentuado do desemprego. A estes seguiu-se o choque da subida das taxas da Euribor, o que veio agravar a situação de dezenas de milhar de compatriotas face ao aumento das prestações da compra de habitação própria.

Seguiu-se o choque petrolífero, cuja espiral de aumento não cessa de aumentar quase diariamente, com o consequente agravamento dos custos dos transportes pelo que, como não poderia deixar de ser, sofremos o choque do aumento da inflação, a qual, previsivelmente, atingirá o dobro do que era suposto aquando da apresentação do Orçamento do Estado para 2008, e que então o Governo estimava em cerca de 2%.

Como resultado destes diversos choques, somos confrontados com um novo choque, a revisão, em baixa, do crescimento da nossa economia, pelo que a divergência com a economia dos restantes parceiros da União Europeia irá, certamente, acentuar-se, para além de que com este facto se adensa o espectro dos resultados das empresas “caírem” com a consequente diminuição das receitas fiscais.

E, para compor o ramalhete, como soe dizer-se, somos agora confrontados com o choque da escassez dos cereais e consequente subida em flecha do seu custo.

Poderão alguns dos Prezados Leitores pensar que estamos a ser pessimistas e outros pensarem que a situação ainda é pior do que aquela que atrás descrevemos de modo tão sucinto.

Não foi, porém, nenhum intuito alarmista ou derrotista que nos levou a escrever o presente editorial, mas tão só o de demonstrar, de um modo que fosse perceptível para todos nós, como um ou dois incidentes acabam por desencadear uma sucessão de choques que afectam de um modo inusitado a nossa vivência, choques estes que, estamos certos, saberemos ultrapassar através da capacidade, de que sempre temos dado provas, de, nos momentos mais difíceis, fazermos das fraquezas forças e vencermos os adamastores que nos querem vergar.

João Colaço