2008

Novembro


QUAL A SUA VERDADEIRA DIMENSÃO?
...esta “crise” acaba por servir de desculpa para o incumprimento generalizado por parte dos clientes, das suas obrigações...


Cremos que a palavra mais repetida, nos tempos que correm, é a palavra “crise”. E, como o nosso povo costuma dizer, das duas uma. Ou a denominada crise do subprime nos Estados Unidos atingiu muito maiores proporções do que aquelas que as respectivas autoridades anunciaram, pelo que ainda hoje não existirá consciência da dimensão real das consequências que essa crise está a originar, ou a dimensão da crise tem sido empolada para permitir que se efectuem malabarismos atinentes ao branqueamento de situações duvidosas, no mínimo, e à desresponsabilização de pessoas e entidades que deveriam estar acima de toda a suspeita.

Se é certo que hoje em dia vivemos num mundo global, passe a redundância do termo, em que as economias de todos os países acabam por estar interligadas, também não é menos certo que cada país tem os seus próprios problemas específicos.

E Portugal, obviamente, não foge à regra. Estamos crentes que pelo facto de sermos um país de reduzida dimensão, periférico, e com uma situação política estável, a crise não nos afectou tão profundamente como a muitos outros países. Apesar disso, e devido ao nosso proverbial pessimismo e tendência para carregarmos as cores em todas as situações menos favoráveis, o sentimento que tem perpassado é que estamos “perdidos” e que só dentro de alguns anos é que conseguiremos ultrapassar a “crise”.

Mas, para além do que atrás afirmamos, esta “crise” acaba por servir de desculpa para o incumprimento generalizado por parte dos clientes, das suas obrigações, incumprimento este que tem o efeito perverso não só de justificar que a crise existe mesmo como o de aprofundar uma situação que, apesar de tudo, não deverá ter a dimensão por muitos apregoada.

Reparem os Prezados Leitores que no Editorial de Junho de 2008, sob o título “Choques atrás de choques”, enunciámos uma série de situações que nos eram desfavoráveis, entre as quais a crise do subprime nos EUA, a consequente desvalorização do dólar face ao euro o que afectou as nossas exportações, o aumento do desemprego, a subida, então em espiral, do preço do barril do petróleo e o aumento das taxas da Euribor.

Ora, apesar de tudo, cremos que hoje algumas das situações atrás descritas já se normalizaram ou estão em vias de o ser, pelo que, de novo, afirmamos a nossa ideia de que não estamos tão mal como nos é sugerido, pelo que, certamente, existem interesses (políticos e económicos?) por detrás da mensagem que nos é transmitida de que o País está mergulhado numa crise sem precedentes, o que inviabiliza um futuro mais risonho e mais próspero.

Notem os Prezados Leitores que também não afirmamos que a nossa situação económica é excelente e que somos um oásis no meio do deserto mundial da crise.

Atravessamos dificuldades, o desenvolvimento económico e social não é tão acentuado como todos o desejaríamos, subsistem assimetrias, que se têm vindo a agravar, entre os extractos da sociedade, com os pobres a ficarem cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, mas, e apesar de tudo, se todos nós formos solidários, se acreditarmos que temos a capacidade para ultrapassar estes escolhos, se tivermos auto-estima e confiança no futuro, pondo o pessimismo para trás das costas, então a crise será vencida e ocuparemos um lugar de honra a que temos direito, no seio das nações que compõem este nosso mundo, em função da nossa história e dos profundos reflexos que a mesma deixou para o progresso mundial. 

João Colaço