Agosto
QUE PAÍS É ESTE ?...
"Tanto o partido do Governo, como os partidos da oposição, têm estado mais entretidos na discussão da baixa política do que nos reais interesses do País"
Geralmente, quando nos aprestamos para escrever algo que sintetize os acontecimentos mais relevantes que ocorreram, no mês entretanto decorrido, e o que se perspectiva que irá suceder no mês que se inicia, tendo sempre como princípio procurar dizer o que se passou e não o que julgamos que se passou, fazemos uma prévia análise no nosso subconsciente para que, da miríade de assuntos que a todos nós disseram, e dizem, respeito, dissertemos sobre temas que nos são caros e que tenham a ver com a nossa profissão, ou com o nosso futuro.
Mas, prezados Leitores Colegas e Amigos, por vezes falta-nos a paciência, ou dizendo de uma maneira mais terra a terra, falta-nos a pachorra para comentar o que se passa neste “jardim à beira mar plantado”, em que são escassas as rosas mas proliferam os espinhos.
Cremos que não há quem não reconheça que o País está metido num grande imbróglio, modo mais simpático, mas talvez menos realístico, de dizer que estamos metidos numa grande alhada, cujo prognóstico ameaça não só a presente geração como também as próximas, de vivermos acorrentados a uma estagnação e, quiçá, uma deterioração, das condições de vida, com especial incidência nos mais desprotegidos, no caso os mais idosos e os desempregados.
Porém, e gostaríamos de vir a ter que admitir que estamos errados nesta avaliação, temos a sensação de que estes desprotegidos somente são matéria de interesse para serem utilizados pelos partidos políticos como bandeiras, palavras de ordem e grandes tiradas de pura demagogia, ao invés de serem tomados como fonte de profunda reflexão para se inquirir como, no espaço de meia dúzia de anos, fruto, no entanto, de políticas anteriores, também elas erradas, estes nossos concidadãos passaram de uma situação que, estamos crentes, poderia ser apelidada de classe média, para uma situação de quase pobreza e, nalguns casos, mesmo de indigência.
E que fazem os nossos políticos mais representativos?
No nosso entender, tanto o partido do Governo, como os partidos da oposição, têm estado mais entretidos na discussão da baixa política do que nos reais interesses do País, o qual exige que se chegue a um consenso o mais alargado possível para que possam ser introduzidas as reformas estruturais imprescindíveis de modo a podermos enfrentar o futuro com uma réstea de optimismo e não mergulhados no mais profundo desespero e na mais negra incerteza.
Pedimos aos Prezados Leitores, Colegas e Amigos, que compreendam que este desabafo não é só nosso, pois certamente que se têm apercebido que este é um tema central da esmagadora maioria dos analistas e comentadores das áreas económica, financeira, social, laboral e política, em que todos coincidem que a solução mais viável, e com garantias de algum sucesso, seria precisamente a de se discutir uma plataforma, o mais alargada possível, e o ideal seria que todos os partidos representados na Assembleia da República a subscrevessem, entendimento este que deveria ter a duração, no mínimo, de uma legislatura, para que, assim, o País sentisse que estamos todos, afinal, no mesmo barco.
Uma outra nota negativa, que não podemos deixar de salientar, até pelo contraste com a opção que políticos de outros países da UE adoptaram, é o facto de, chegado o início de Agosto, os líderes políticos terem ido de férias, o que nos leva a questionar. Que País é este? Sim, que País é este, que, como por magia, os políticos entendem que em Agosto a crise está suspensa?!?!?!
No entanto, e apesar de tudo, como a esperança é a última coisa a morrer, ainda que, como acima referimos, tenhamos a perfeita noção de que a classe política se evaporou, desde o início do mês de Agosto, e que só reaparecerá perto do seu final, com grandes comícios, agora apelidados de “rentrées”, em que mais uma vez serão desenvolvidas as palavras de ordem e as tiradas demagógicas a que acima nos referimos, mantemos a supracitada esperança de que este País ainda seja possível.
João Colaço