2009

Agosto


Férias e outras questões
Trinta e cinco anos após o 25 de Abril, ainda há quem pense que toda e qualquer pessoa que não siga o seu pensamento e não acolha as suas ideias, é um anjo de destruição.


O mês de Agosto é, segundo cremos, o mês em que a maioria dos trabalhadores, por conta de outrem ou por conta própria, goza as suas férias. Estamos, pois, cientes de que o reduzido número de leitores que tem a bondade de ler estas mal alinhavadas palavras, é ainda mais reduzido nesta época estival.

No entanto, e apesar de corrermos o risco de ser escasso o número de leitores, decidimos correr um outro risco. Não iremos dissertar sobre o quão é agradável desfrutar de alguns dias de “dolce fare niente”, mas vamos tecer algumas considerações acerca da génese de muitos conflitos latentes em que “homens de boa vontade” são manipulados para se digladiarem em nome de não se sabe bem o quê. 

Repare-se como a natureza humana é extremamente curiosa. Se, em muitos aspectos, tem evoluído a um ritmo tal que nos causa orgulho, nomeadamente no campo da solidariedade social, noutros aspectos verifica-se uma estagnação, veja-se, por exemplo, o que se passava há quarenta anos atrás, neste jardim à beira mar plantado. Existia, então, um Governo que tinha como dado adquirido que quem não pensasse e agisse de acordo com a doutrina oficial do regime era “comunista” (ou do reviralho?).

Trinta e cinco anos após o 25 de Abril, ainda há quem pense que toda e qualquer pessoa que não siga o seu pensamento e não acolha as suas ideias, é um anjo de destruição. Quer dizer que continuam a existir pessoas que pensam: “Quem não é por nós é contra nós...”

Se atentarmos no quanto se evoluiu no primeiro aspecto, temos de reconhecer que, quanto ao segundo, se não houve evolução, poderemos concluir que houve retrocesso, pois a mentalidade de quem assim pensa além de lesiva dos direitos mais fundamentais, liberdade de pensamento e de expressão, é a mesma mentalidade de quem alimentando a intolerância religiosa, étnica e cultural, fomenta conflitos em que as principais vítimas são as crianças, muitas por sofrerem na própria pele a violência desses conflitos e as outras por neles perderem os seus pais. 

Para mal dos nossos pecados, como era uso dizer-se, as pessoas que têm esta visão maniqueísta de que quem não é por nós é contra nós, estão tão convencidas da “sua” verdade que não sentem qualquer pejo em tudo e todos atropelar para impor a sua vontade, justificando essa atitude com a necessidade de combater todos aqueles que, no seu ínvio pensamento, andam a destruir (???) o que entendem, sem ninguém consultar, ser o melhor para determinado sector religioso e, ou, populacional, ou, em sentido mais restrito, determinado estrato social ou profissional.

Resta-nos a esperança de que o bom senso acabe por prevalecer e todos, sem excepção, saibamos conviver com todos os outros, independentemente das suas ideias e opções, o que nos permitirá concluir que viveremos, então, num mundo civilizado e sem preconceitos, em que não existirão pessoas mais iguais que outras... 

Prezados Leitores, Colegas e Amigos, perdoem-nos não só estes desabafos, como também o facto de o termos feito num período que deveria ser única e exclusivamente dedicado ao puro lazer, e, como soe dizer-se, sem qualquer sombra de pecado...

Desejamos a todos umas férias retemperadoras e tranquilas que possibilitem suplantar os diversos e instantes desafios com que nos iremos defrontar.

João Colaço